quinta-feira, 17 de maio de 2012

Parada no tempo, em Porto Acre ainda é possível ver o velho escambo

Durante o Brasil colônia, a forma de negociar, principalmente com os índios, era o escambo. As duas partes ao fazerem um negócio ou serviço, trocavam por produtos, não havia dinheiro. Uma prática hoje não muito comum no comércio. Pelo menos, era o que achávamos até chegar as margens do rio Acre em Porto Acre.
O produtor rural Oziel da Silva trouxe 20 sacos de farinha para vender no município. Não conseguiu fazer o negócio que queria, para não perder a viagem, trocou a farinha por outros produtos como: arroz, feijão, carne e combustível para o barco. Infelizmente vai ter que dizer a esposa que não deu para comprar roupa nem remédios, porque dinheiro, não conseguiu nenhum.
A falta de dinheiro em Porto Acre é fácil de ser notada quando se olha o empobrecimento do município. A maioria das casas é antiga. Os moradores não têm dinheiro para manutenção.
Na beira rio, o barranco ameaça levar os pontos comerciais que sobraram. No passado o local já foi um grande centro comercial, agora vive de pequenos negócios com os ribeirinhos, que ajudam a manter viva a parte histórica de Porto Acre. São 240 famílias que vivem a margem do rio Acre e dependem da cidade para chegar com os produtos das colônias. Existe ainda mais 200 famílias que moram no Amazonas, mas que dependem de Porto Acre.
A cidade histórica do Acre vive sem história. Um pequeno museu guarda alguns utensílios e armas que datam de 1899, quando os bolivianos instalaram uma aduana, na vila Chamada Puerto Alonso. Nem mesmo o local onde morou Galvez, um dos primeiros a enfrentar os bolivianos pela liberdade do Acre, foi salvo. Máquinas destruíram parte do piso, e agora, o mato esconde uma história com mais de 100 anos e que custou a vida de dezenas de pessoas.
O prefeito José Maria disse que existe um projeto que vai deixar Porto Acre de frente para o rio. O Governo Federal recebeu todas as informações, o problema é que a obra pode custar R$ 5 milhões e a prefeitura, sequer, tem a contrapartida, que chega a R$ 125 mil.
Enquanto a cidade não vira para o rio, muitas coisas parecem estar barranco a baixo. A saúde é uma delas. Depois de dois meses de espera, apareceu um médico no único posto de saúde. Já o dentista não apareceu.
Nesse período de vazio médico, muita gente ficou doente, esperando a chegada do atendimento, outros fizeram várias viagens do seringal até conseguir falar com o médico, como é o caso da Francisca das Chagas que fez 5 viagens da colônia onde mora até a cidade, e não conseguia ser atendida. “gastei o dinheiro que não tinha para buscar um tratamento, não pode fazer isso com a gente”, declarou.
Cidade esquecida
A cidade está cheia de mato. A rodoviária está em pedaços, há uma semana ela fechou sem que a prefeitura se explicasse. Não existe agência bancária, bastou um roubo nos caixas eletrônicos do banco do Brasil por fim ao serviço.
No entanto, existe outra Porto Acre, saindo da parte história rodando 30 quilômetros chega-se ao projeto Humaitá. A área de assentamento se transformou em duas vilas a do Incra e da do V. As ruas são largas e asfaltadas. Tem posto de saúde com direitos a ambulâncias. Existem escolas, bancos e a estrutura da prefeitura.
Nas duas vilas moram 6.500 pessoas, cinco vezes mais os habitantes da parte histórica. Foi aqui onde encontramos o prefeito. Ele disse que, além do projeto Humaitá, existe outra divisão que é o projeto Caquetá, onde o município também precisa priorizar os serviços. “É difícil manter os mesmo atendimento em três locais distantes e diferentes”, relatou.
Nessa região de grandes fazendas, com a produção voltada para gado de corte, existe uma população carente. O Francisco Ricardo de Araújo tem 74 anos é um exemplo. Trabalha o dia inteiro limpando as ruas, só Pará na hora de almoçar. É aposentado, mas um salário mínino não dá para sustentar a família disse ele, por isso trabalha com a enxada para garantir uma vida melhor a quem ficou em casa.
Porto Acre é assim: o berço da revolução acreana começa a ficar sem passado, e o que é histórico virou referência de rural.

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